sexta-feira, 9 de abril de 2010

Trabalho: atividade, ofício ou profissão?

Recentemente, em uma aula ministrada pelo festejado professor Marcus Cláudio Acquaviva, foi abordado, de maneira um tanto rápida em função da escassez de tempo, o tema que deu o título a esse texto. Aconteceu que essa parte da aula despertou em mim certa curiosidade, porque nunca havia refletido sobre esse prisma a respeito de trabalho. A partir disso, apanhei a mensagem do professor e a sintetizei num texto, brindando-o com exemplos.


Trabalho: atividade, ofício ou profissão?

Sabe-se bem que trabalho, no sentido jurídico, é a produção de tudo aquilo que seja útil socialmente. Entretanto, a etimologia de trabalho remete-nos aos tempos do Império Romano. Tripalium (do latim "tri" (três) e "palus" (pau) - literalmente, "três paus") designava uma espécie de tripé, composto por três estacas – ou “três paus” – fincados no chão, de maneira que formasse uma pirâmide, na qual eram suplicados os escravos. O tripalium, instrumento de tortura, era o lugar onde se pagava a penitência. Então, o trabalho era sinônimo de sofrimento, só posteriormente, por uma evolução semântica, que adquiriu o sentido supracitado – malgrado ainda haver quem acredita que trabalhar é sofrer.

Entende-se que o trabalho é um gênero e que abrange três espécies. A primeira delas é a atividade. A atividade é a forma de trabalho que dispensa regulamentação legal. É muito precária, comumente exercida por pessoas que não estudaram o suficiente para realizarem outras formas de trabalho mais complexas, uma vez que a atividade não exige um nível de intelectualidade elevada. Por isso diz-se que a atividade é o trabalho que pode ser facilmente exercido por qualquer pessoa. A título de exemplo, bom é trazer à tona a figura dos vendedores ambulantes não regulamentados, que são trabalhadores informais, não registrados e cuja atividade não exige formação escolar alguma, apenas conhecimentos rudimentares.

Conforme se sobe a pirâmide, chega-se na faixa da segunda espécie, denominada ofício. O ofício é uma forma de trabalho regulamentada que exige conhecimentos técnicos, e estes, por sua vez, pressupõem um nível intelectual maior do que o necessário para o exercício da atividade. É a forma de trabalho mais difundida em nosso país e no mundo em geral, tendo em vista a exigência de conhecimentos medianos acerca do ofício. São eles alguns exemplos de pessoas que exercem ofícios: motoristas, caixas de supermercados, cabeleireiros, todos aqueles trabalhadores de nível médio e técnico – desde que regulamentados.

Por último, vem a mais nobre forma de trabalho, a terceira espécie, a profissão. A profissão pressupõe uma formação acadêmica e exige elevado nível de intelectualidade, uma vez que requer do profissional, conhecimentos profundos na sua área de atuação. Advogados, arquitetos, médicos, engenheiros são todos exemplos de profissionais cujas profissões foram conferidas a partir de um curso de nível superior. Cumpre assinalar que, no Brasil, somente 5% das pessoas são graduadas em nível superior e, portanto, podem se tornar profissionais. Talvez pelo fato de existirem poucos profissionais é que estes gozam de um prestígio social ímpar, o que não acontece com as outras duas espécies de trabalho.

Cai a lanço afirmar que ser um bom trabalhador não tem relação alguma com a forma de trabalho. Em outras palavras, não é porque um trabalhador exerce uma atividade que ele não seja bom naquilo que faz; ou, não é porque um homem tem uma profissão que ele seja exímio nela. Em todas as órbitas trabalhistas existem os bons e os maus trabalhadores, bem como os dignos e os indignos, os éticos e os antiéticos. Fica, então, dependente de cada pessoa o sucesso na sua atividade, ofício ou profissão, não se olvidando que o ser bom naquilo que realiza é a chave que abre a porta do sucesso.

11 comentários:

  1. O nem mesmo o parágrafo final conseguiu atenuar o tom elitista do texto...

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  2. Acredito que nosso país precise de melhores trabalhadores em todas essas áreas, e talvez de uma melhor valorização dos trabalhadores profissionais (não sei se o termo está correto, mas me refiro aos que exercem profissão). Afinal, foi-se o tempo que exigia-se tanto de médicos e advogados, já históricamente elitizados, que enfrentam um campo de trabalho cada vez mais difícil e sem condições, sem contar profissões que sequer nos lembramos ao falar da formação acadêmica como farmacêuticos, professores, dentre muitos outros prestadores de serviço que NUNCA tiveram sua força de trabalho bem valorizada no país.
    Espero que o comentário ajude a desenvolver outros textos, e assim desenvolver minha forma de pensar também, através do seu conhecimento. Ótimo texto =)

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  3. Eu acho que qualquer texto a respeito de "trabalho, ofício ou profissão" tende a ser um pouco elitista, Kim. Mas eu gosto da maneira como o Felipe escreve, curti o blog. ;)

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  4. elitista, e com uma leitura simploria.

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  5. Concordo com a Bárbara mas ainda assim achei um tanto limitado, já que a intenção era "fazer um brinde", poderia ter brindado com um tanto à mais de categoria e propriedade...

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  6. Senhores, em que pese soe elitista, é difícil reproduzir a diferença de tais conceitos sem causar certa repugnância.
    Porém, seria possível, com mais objetividade, amenizar tal sentimento, como, por exemplo, a ausência palavra "a mais nobre forma de trabalho" para designar profissão. Ora, todas os labores, em qualquer classificação, são igualmente dignos.

    De qualquer forma, parabéns pelo blog.

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  7. Todo trabalho é digno, não é o trabalho que honra o homem, mas é o homem que torna o trabalho digno.

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  8. O texto é bom , mas pelos conceitos cai por terra toda nossa ideia de profissão. Eu só vejo atividades e profissões, esta última sem as definições ora presentadas .

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  9. Veja bem, existem "profissões" que são tidas como atividade, como o casos dos eletricistas. Para se exercer o oficio, necessita-se um consíderável conhecimento técnico. Mas o próprio MTE não tem registrado em seu CBO (cadastro brasileiro de atividades).

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  10. Corrigindo CBO: Classoficação Brasileira de Ocupações

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