quinta-feira, 29 de abril de 2010

Filosofia da Felicidade

Depois de muitos meses de reflexão e de extensas e profundas conversas com várias pessoas sobre a felicidade, cheguei a uma conclusão, que agora, com muito prazer, compartilho com vocês.

Quando se pergunta às pessoas o que é ser feliz, de pronto respondem, quase que em coro, que ser feliz é ter uma casa grande, em um bairro bom. Ter um carro importado na garagem, ter saúde, ter dinheiro para viajar, estar bem com os familiares e também consigo mesmo. Ser feliz é ter cultura, ir ao cinema, ao teatro. É ter tempo para lazer e fazer aquilo que gosta e com as pessoas que gosta. Ter uma casa na praia, de preferência beira-mar, para ter uma vista mais agradável. Ser feliz é, ainda, ter um bom emprego, conseguir um bom status social e, assim, adquirir o prestígio da sociedade.

Sim, ser feliz pode ser tudo isso, e muitas outras coisas que renderiam quilômetros de palavras. Proponho-me, no entanto, a reduzir a uma fórmula a felicidade. Ousarei conceituar, de maneira objetiva e concisa, a felicidade, e apontarei a máxima conseqüente da felicidade, ou da busca por ela.




FILOSOFIA DA FELICIDADE

Sabemos - e muito bem por sinal - que todos os prazeres da vida estão umbilicalmente ligados à felicidade. A razão de vivermos é a felicidade. Ora, existe outro objetivo em nossas vidas senão aquele de ser feliz?

Concebamos a seguinte situação: uma mulher compra um esmalte vermelho numa farmácia. Pergunto-lhe por que ela quer comprar um esmalte vermelho, ela responde que é para fazer as unhas. Pergunto, então, por que ela quer fazer as unhas, e a resposta é óbvia, quer ficar mais bonita. Continuo perguntando por que ela quer ficar mais bonita, e ela responde que é para chamar a atenção das pessoas. Novamente, pergunto por que quer chamar a atenção das pessoas, e ela me responde que chamar a atenção das pessoas a faz sentir-se bem. Por fim, pergunto por que ela precisa se sentir bem, e a resposta final é porque sentir-se bem a deixa feliz. Essa é a última resposta, pois é isso que realmente importa.

Nessa vereda, o motivo dessa mulher ter comprado um esmalte vermelho não é para fazer as unhas, nem para ficar mais bonita. Tampouco é para chamar a atenção das pessoas, ou para sentir-se melhor. O motivo legítimo da compra do esmalte vermelho é para ser feliz.

A título de outro exemplo, de modo semelhante à mulher do esmalte vermelho, é a figura do carola. Se a um carola for perguntado por que vai à Igreja, certamente a resposta será porque acredita em Deus e o encontra lá. E se for perguntado novamente por que acredita em Deus, responderá, convictamente, porque Deus é a explicação para a criação do mundo e da humanidade. E se perguntar-lhe, então, por que precisa de uma explicação à criação do mundo e da humanidade, a resposta será porque isso satisfaria a sua vontade de saber a origem das coisas. Pergunta-se-lhe, finalmente, por que precisa ter sua vontade de saber a origem das coisas satisfeita, e a resposta última é porque isso o faz feliz.

Assim, a verdadeira razão do carola ir à Igreja não é porque acredita em Deus e o encontra lá, nem porque Deus explica a ele a origem das coisas e terá sua curiosidade satisfeita, a de saber a origem das coisas, mas sim porque quer ser feliz.

Obedece a esse ditame tudo o que fazemos. Em outras palavras, o fim último das nossas ações é a felicidade. Não adianta; por mais que pensemos, por mais que busquemos alguma exceção à regra, não encontraremos resposta diversa à de “ser feliz”. O fim último do homem é a felicidade absoluta, plena, perpétua. Não há outra razão em viver, em crescer, em continuar, senão a busca da felicidade.

Entretanto, ainda falta definir o que é felicidade.

Todos nós temos necessidades, umas vitais outras nem tanto. As necessidades variam de ser para ser. Muitas vezes, a necessidade é um simples desejo, ou um querer muito forte de algo. Assim, quando temos um querer, um desejo, ou ainda, uma necessidade satisfeita, estamos felizes. Estar feliz em todos os aspectos, em todos os âmbitos e em todos os sentidos, é o que faz a pessoa ser feliz. Logo, a felicidade é a consciência da satisfação plena de todas as necessidades.

Parece difícil entender, mas é simples [entender]: basta que tenhamos todas as necessidades satisfeitas, que seremos felizes.

Todavia, ao passo que é simples entender é impossível conseguir. Impossível sim, pois o empirismo tem nos mostrado que nenhuma pessoa até hoje foi plenamente feliz em todos os aspectos, âmbitos e sentidos durante toda a vida. Seria utopia dizer que a felicidade plena é possível e galgável.

Encaremos, pois, a realidade: o homem é um ser destinado ao martírio e nunca poderá ser feliz por completo devido à impossibilidade de ter todas as suas necessidades satisfeitas concomitantemente. A vida é dura, porém é a vida. É assim, impieadosa, não há remédio que cure isso. O que pode ocorrer, contudo, são picos de felicidade na vida das pessoas. Por algum momento, tudo pode ter sido satisfeito, mas como as necessidades são constantes renovações, surgem outras que necessitarão de satisfação para deixar quem as possui feliz.

Mas o homem é um ser tentador – tentador, aqui, no sentido literal. Não pára de tentar ser feliz. E não deve nunca parar de tentar, porque quanto mais tentador for o homem, menos infeliz ele é, visto que tem mais das suas necessidades satisfeitas.

Chega-se, por conseqüência, a outra máxima: como todas as suas atitudes são exclusivamente em função da busca de ser feliz, o homem é um ser essencialmente egoísta.

Na economia, Adam Smith já dizia que, no livre mercado, “não é da benevolência do padeiro, do açougueiro ou do cervejeiro que eu espero que saia o meu jantar, mas sim do empenho deles em promover seu auto-interesse”. Adam Smith procurou demonstrar que a riqueza das nações resultava da atuação de indivíduos que, movidos apenas pelo seu próprio interesse, promoviam o crescimento econômico e a inovação tecnológica.

E, analogamente, pode-se transportar esse pensamento à felicidade, uma vez admitida a felicidade como um interesse próprio – “self-interest”, no dizer expressivo de Smith. Até mesmo a própria continuidade da humanidade é dada pelo egoísmo: a necessidade de fazer sexo, de reproduzir - ou melhoradamente, de ser pai ou mãe – tem que ser satisfeita a fim de deixar o agente feliz.

É dessa maneira que caminha a humanidade. Os homens fazem aquilo que fazem porque querem ser felizes, e por mais nada.

11 comentários:

  1. Ótimo texto! Contudo, independente da vida ser dura, e ela o é, a busca pela felicidade é um combustível que não deve acabar nunca. Há a felicidade em viver, subjetiva, que deve existir nas pessoas saudáveis e que existe em mim; essa felicidade é plena, contudo a felicidade ABSOLUTA depende da necessidade, que nunca é, ou deve ser, satisfeita. e "é dessa maneira que caminha a humanidade. Os homens fazem aquilo que fazem porque querem ser felizes, e por mais nada."
    Bravo!

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  2. Se me permite, cito o seu texto no meu blog, e incluo o link. Se preferir, basta me informar e retiro a indicação =D

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  3. Texto bem escrito (embora o Acquaviva discorde ahauhauh), mas eu discordo veementemente de quase tudo. A felicidade não pode ser analisada sob a óptica exata dos conceitos, afinal, todo estudo da mente humana é inexato e adentra os campos da psicologia, neurologia, antropologia etc... Mas, opinião é opinião. Respeito seu ponto de vista. Abraços!

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  4. Caro amigo,

    Uma coisa é tentar fundamentar a máxima do Kim,
    outra coisa é afirmar categoricamente que bilhões
    de pessoas que foram, e tem ido as igrejas o fazem, não pq querem buscar a Deus, mas porque querem ser felizes.

    Durante a Reforma de Lutero milhares de pessoas
    perderam suas vidas, Jonh Hus tambem, assim como varios outros... não se pode afirmar que essas pessoas morreram tentando ser felizes, ate porque
    morrer cruxificado ou queimado não é nem um pouco sequer agradavel.

    Portanto sugiro que o senhor pense a respeito dessa afirmação.

    Leia 2Coríntios Cap 11: 23-27

    Andre

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  5. André,

    Existe um erro filosófico no seu comentário.

    Veja, a morte dessas pessoas durante a reforma protestante não decorreu da declaração volitiva delas mesmas!

    Em outras palavras, a morte ocorreu como um fator externo à busca da felicidade: essas pessoas morreram tentando ser felizes sim, porém a morte foi uma consequência imprevista na busca pela felicidade; foi acidental; essas pessoas morreram por causa de outras pessoas que, egoístas como eram, achavam que se as matassem seriam felizes...

    Nessa toada, Lutero protestava uma reforma religiosa, a fim de encontrar a felicidade num outro rito (ou ideologia) que não naquele Católico, pois este já não o satisfazia mais. Ele sentia uma necessidade de reforma e foi em busca dela, para quê? Para ser feliz! Qual seria o motivo último de Lutero querer uma reforma? Acabar com a alienação da Igreja Católica? Findar os abusos das indulgências? Sim. Tudo isso, e muitas coisas mais. Entretanto, o fim último - talvez subjetivo - seria a felicidade, porque buscou tudo isso para que se sentisse melhor e proporcionasse às outras pessoas a mesma coisa... Por que? Porque pensava que tendo essa necessidade satisfeita, que se as coisas funcionassem desse modo, seria feliz, e deixaria as outras pessoas felizes!

    A morte foi uma repressão à reforma... não tem relação alguma com o objetivo finalístico, que é sempre ser feliz.

    E quanto aos Coríntios Cap. 11:23-27, que trata da última ceia, o carola que segue esse ritual na Igreja (a comunhão), o faz porque quer ser feliz, tem fé que isso é a salvação, e ter a salvação - ou pensar que a terá - o deixa feliz!
    Não há como fugir.

    Por isso, eu é que sugiro que o Senhor repense a respeito do texto e descontamine seu pensamento...

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  6. Este comentário foi removido por um administrador do blog.

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  7. Pois é Marin... Pelo seu texto, acabo concluindo que a felicidade está intimamente ligada com o sentimento de sobrevivência e, portanto, isso vem deeeeeeesde dos nossos amigos, Homo sapies, Homo erectus, Homo (...)

    Simplificando bastante, basta-nos pouco pra ser um pouco feliz. Basta estar vivo.

    Abraço do Toogood

    PS: Adicionei seu blog na lista de parceiros do mue blog

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  8. Ola

    Parabens pela coragem em conceituar a felicidade de forma tão simples. Nao farei julgamento algum de seu texto.

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